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Primeiramente: respeite o local de fala dos negros. Grata |
Vamos falar de coisa séria minhas tulipas, o assunto hoje é Afroconveniência, esse termo novo que vem circulando as mídias ultimamente. Primeiramente o que é a afroconveniência? A afroconveniência, como sugere o termo, nada mais é do que declarar-se afrodescendente quando conveniente. Esse termo é bastante usando quando falamos do sistema de cotas no Brasil, devido a autodeclaração individual, onde quando necessário utilizam da árvore genealógica para declarar-se negro e ter direitos sobre as cotas reservadas para pretos e pardos (segundo o IBGE).
A primeira coisa que sempre ouço falar é: "mas não deve ter esse brasileiro que não tenha um negro na história da família, afinal somos miscigenados". Essa afirmação tá corretíssima, mas precisamos falar primeiramente de como é importante o sistema de cotas, que funciona como um mecanismo de reparação das disparidades entre oportunidades e "viabilidade" de acesso a determinados setores quando dividimos a sociedade em negros e brancos. O que envolve por sua vez acesso a educação, saúde, segurança, cultura, lazer, e fatores diversos que distanciam uns e aproximam outros de oportunidades como ingressar no mercado de trabalho e universidades.
Paremos pra pensar um pouquinho, se o Brasil é um país miscigenado, porque ainda ouvimos falar de tantos casos de racismo? Explico rapidamente: diferente do que aconteceu nos EUA no período do apartheid, as definições de etnia no Brasil são pautadas na cor da pele e nas expressões fenotípicas características do povo negro, enquanto nos Estados Unidos aqueles que hoje consideramos brancos eram excluídos do convívio social por ter descendentes negros na família. O que pode parecer estranho é: pessoas de pele e expressões fenotípicas predominantemente brancas que possuem ancestrais negros não sofrem preconceito no nosso país, então porque motivo este necessita de reparação? Quais os tipos de injustiça uma pessoa branca sofre no Brasil?
Ao andar na rua (principalmente em Salvador), fica claro que muito raramente os olhos se entortam quando um jovem branco caminha pela rua (exceções aos casos onde a classe econômica é evidente). O que ainda podemos enxergar é: a afroconveniência não se restringem as cotas. Aqui em Salvador é bem fácil de enxergar: em um momento o candomblé (religião afrobrasileira) é visto com maus olhos pela sociedade devido a todo estigma construindo ao longo das gerações. No instante seguinte o acarajé é consumido por todo e qualquer indivíduo e mais: é comercializado por religiosos cristãos e protestantes (pasmem: na porta das igrejas!).
E os turbantes? As tranças nagô? Os instrumentos musicais? Aqui na Bahia é assim, tem hora que "aff, coisa de preto", e outras que "coisa de negro, amo!". Nada além do mecanismo do usar quando convém. Vamos nos recompor que o arsenal de hipocrisia é infinito. Se olhe no espelho hoje e veja cada marquinha do seu rosto, olhe o tipo do seu cabelo, olhe o tom da sua pele e diga pra se mesma: sou preta! Caso não seja, orgulhe-se também, e não deixe de respeitar o outro por ele não ser igual a você. O respeito é sempre a mãe de todos os momentos. Eu, enquanto mulher negra, vou continuar empoderando os negros que são afroconvenientes e desconstruindo os brancos que desrespeitam o que é nosso e nos usam de joguete. Bola pra frente! Poder aos negros! Igualdade a todos! Boas bandeiras a serem levantadas no século XXI não é?
Um beijo, um xêro, sintam-se abraçadxs <3
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